quarta-feira, 29 de julho de 2015

Considerações Litúrgicas - por Marly Moulin

ED 105 CELEBRANDO – CONSIDERAÇÕES GERAIS PARA AS EQUIPES DE LITURGIA
Não se compreende uma Liturgia pomposa exteriormente
                                                           e vazia  de fé” (Odo Casel)

O importante na Liturgia é fazer sobressair o Sagrado, seja na arrumação do espaço celebrativo, seja em nossas gestualidades e compromisso na participação ativa, plena e frutuosa de toda a assembleia, visando a comunicação e vivência do Mistério Pascal.
Começamos nesta edição considerações no formato perguntas e respostas, para dirimir dúvidas. Se alguma equipe de Liturgia das Comunidades nos quiserem mandar proposições para outras edições, teremos o prazer em ajudar.
Lembramos que o Pároco é a autoridade em toda a região paroquial. Suas decisões são prioritárias.

1.    Como obter um espaço litúrgico funcional?
- Quando garante a participação ativa e plena da assembleia – povo celebrante – no ponto de vista visual, acústico, em ambiente acolhedor, cômodo e festivo, embora silencioso; que possibilite o exercício das diversas funções e ministérios, bem como a realização dos Sacramentos a serem realizados na Comunidade - suscitando em todos a presença de Deus, que fala ao seu povo.

2.    Por que algumas comunidades, num trabalho direto da Equipe de Arte Sacra da Diocese, optam por um espaço em círculo ou semicírculo?
- Ele congrega a assembleia em torno das mesas da Palavra e da Eucaristia – Ambão e Altar – de modo a favorecer a participação e comunicação plena da assembleia celebrante. Lembremos que durante a Instituição da Eucaristia, na última Ceia, Jesus se reuniu com seus apóstolos em torno de u’a mesa. Assim eles se viam, ouviam e comunicavam entre si.

3.    A Comunicação na Liturgia realiza-se apenas através da palavra?
- Não, também pelos gestos, pelo silêncio... Uma assembleia barulhenta atrapalha a comunicação do e com o Sagrado. O silêncio é necessário para concentração, para acolher, para meditação, oração, adoração. O silêncio celebrativo precede cada Leitura, cada Rito, cada gesto.

4.    Por que a necessidade de uma reunião preparatória semanal com a Equipe de Liturgia?
- Compete a essa Equipe formar/conduzir/pensar junto com as pessoas que vão exercer alguma função litúrgica, celebrativa: animador, leitores, Ministros da Palavra e da Eucaristia, um representante do grupo de música, quem vai participar de procissões ou algum momento solene, por simples que seja. E ainda preparar as preces comunitárias, buscar entender o manuseio dos livros sagrados... Sempre em clima orante, para que tudo flua de forma natural, sem corre-corre, evitando, assim, muitos “ruídos”, como diz o Frei José Ariovaldo. Preferencialmente fazer a Leitura Orante.

5.    Fala-se em gestualidade sacra. Como alcançá-la?
- De forma discreta, solene, postura corporal adequada a cada Rito, e para quem preside, uma fala sempre clara, em tom que facilite a escuta; cuidado também na forma de se vestir para ir à Igreja, principalmente os que estarão à frente da Celebração. Não se trata de qualquer palavra que se vai proclamar ou ouvir – trata-se de um serviço a Jesus Cristo, que fala pessoalmente ao povo reunido.

6.    Qual o sentido da procissão inicial?
- É a busca do povo por Deus, num desejo de encontro, caminhando pelos desertos da vida, em busca de uma terra de libertação.

7.    Como organizar a procissão de entrada?
- Normalmente, ter à frente o cruciferário (aquele que conduz a cruz processional), com o Cristo crucificado voltado para frente, seguido, dos que vão participar de algum momento, como por exemplo, quem faz as preces, quem leva algum cartaz, etc. Depois vêm os leitores, os Ministros da Eucaristia, acólitos, se houver, e Ministro da Palavra. 
 - Uma exceção nessa ordem: na Vigília Pascal, o Círio aceso à frente e sem a cruz processional. Já nos domingos do Tempo Pascal, o Círio esteja em seu lugar, e seja preferencialmente aceso de forma solene logo após a saudação inicial do Presidente. Atenção: a pessoa que faz esse acendimento use uma vela, de igual forma quem acende a(s) vela(s) do altar, ambos preferencialmente durante um canto meditativo, em tom baixo.

8. Para acolher a procissão de entrada é correto o animador dizer “Vamos acolher a procissão de entrada com nossos celebrantes”?
- Não. Afinal os celebrantes são toda a assembleia reunida. Bastam poucos dizeres para situar o povo quanto aquele momento litúrgico. Falar muito com poucas palavras...

9.    Qual o primeiro cumprimento por parte de quem preside, ao iniciar a Celebração?
- A primeira saudação a ser feita é à Santíssima Trindade, com o Sinal da Cruz.  Depois ao povo, quando o Presidente introduz a assembleia no espírito da Celebração, no tocante ao tempo litúrgico, por exemplo. Caso o Animador já tenha feito isso, o Presidente apenas completa o que for necessário. É preciso, pois combinarem, antes, para não haver duplicidade de falas.

10.  Muitas pessoas trazem nas mãos a Liturgia Diária ou outro folheto/livreto com as leituras. É correto?
- Não. Hoje até em celulares vemos pessoas acompanhando as Leituras. Todos devem estar voltados para o Ambão, OUVIR atentamente a Palavra proclamada e CANTAR a resposta do Salmo. Idem com relação a HOMILIA. Estar com o corpo e a mente atentos, em silêncio, sacraliza o Rito. A escuta é importante, bem como a posição, seja sentados ou de pé.

11.  Qualquer canto penitencial é litúrgico?
- Não. Nele deve estar evidenciado o pedido de perdão ao Pai e ao Filho. E nunca evidenciar pecados deste ou daquele, mas uma súplica à misericórdia divina. Um exemplo não litúrgico: - “Pelos pecados, erros passados, por divisões na Tua Igreja , ó Senhor...”

12.  O Canto do Glória é Trinitário?
- Não. Dirige-se ao Pai e ao Filho. E a letra deve ser o mais próximo possível da Oração.

13.  Como e em que momento se apresenta as intenções para a Celebração?
- Antes da motivação inicial. Entretanto a comunidade deve – aos poucos – superar a prática de ler todas as intenções. Apenas as prioritárias. As demais, colocam-se sobre o Altar. Após o Oremos (Oração inicial) – uma pausa silenciosa é o ideal para que cada um dirija interiormente sua prece pessoal ao Pai.

14.  Quando se deve fazer a procissão do Livro Sagrado, sinal da Palavra de Deus?
- O Item 70 do subsídio da CNBB – 3 diz que, “conforme as circunstâncias específicas” a comunidade encontre “dentro da variedade de gestos possíveis, ritos que permitem valorizar e realçar o Livro da Palavra”, sinal da Palavra de Deus, trazendo-o em procissão, colocando-o na Mesa da Palavra e aclamando-o “antes e depois das leituras”. Não se recomenda folhetos litúrgicos para proclamar a Palavra.

15.  É necessário algum comentário antes de cada Leitura?
- De forma alguma. E muito menos anunciar o nome de quem vai proclamar. Só o Cristo deve aparecer. E após cada leitura, pequeno silêncio deve ser feito. Não há pressa para que o outro Leitor se aproxime do Ambão. Silêncio também após a homilia, para que o sentido da Palavra caia em nosso coração.

16.  Como orientar o Leitor para proclamar bem os textos bíblicos?
- Cabe ser dada uma formação à parte. Seguem alguns pontos essenciais:
      - Nunca dizer “Primeira Leitura”, “segunda...”, “Salmo Responsorial”, ou mesmo “vamos responder ao salmo cantando...”
      - Dizer a fonte do texto a ser proclamado. Ex: Leitura (do Livro) do Profeta Isaías...
       - Importante a vênia diante do Ambão (antes e depois): a Mesa da Palavra deve ser valorizada.
      - O leitor deve treinar em casa, primeiro absorvendo o que diz o texto para si mesmo; usar voz firme e clara, sem pressa, olhar a assembleia (=reunir) ao dizer “Leitura do Livro...”.
      - Treinar bem a questão do uso do microfone, numa distância de forma que ele capte o som de sua própria voz, sempre de forma clara, pausada, observando bem as pontuações, e sem correria, pronunciando bem as palavras.
      - Bom também o leitor observar o texto, se é uma forma narrativa, poética,, exortativa, etc. Cada texto exige um tom apropriado de voz.
       - Nunca se esquecer: no final “Palavra do Senhor” (=singular). Afinal a Palavra de Deus é única. O mesmo para quem Preside, após o Evangelho: “Palavra da Salvação”!

17.  O animador pode improvisar?
-  Não deve. Não se trata de animar um auditório. O lugar é Sagrado. Preparar-se para falar o essencial, e até escrever, se necessário. Quando o Celebrando traz o comentário, pronunciá-lo de forma a parecer que não está lendo, o mais natural possível, até de forma abreviada, se for o caso. Tanto o animador quanto os leitores devem “ruminar” o que estão lendo, preparando-se para algo solene, sagrado, embora de forma simples. E manter sempre respeito à assembleia, falando educadamente. Falar menos e dizer mais. Ter sintonia com quem preside, para evitar duplicidade de falas. Sintonia também com o grupo de música.

18.  Por que o termo “animador” e não “comentarista”?
- Num Encontro Nacional de Folhetos Litúrgicos, em São Paulo, assim ficou definido o termo, embora nossa Diocese já o fizesse.

19.  De onde se proclamam as Orações dos fiéis – ou Preces da Comunidade?
- Em acordo com o Pároco. Pode ser de um local à parte, pré-determinado, ou do Ambão. O IGMR (309) diz: “Do Ambão são proferidas somente as leituras, o salmo responsorial, e o precônio pascal; também se podem proferir a homilia e as intenções da Oração Universal ou oração dos fiéis.” 
Lembrete: As preces são direcionadas ao PAI; evitar, dentro do possível: “para que...”

20.  Quais as posições mais corretas para a assembleia?
- A mais correta é de pé! Senta-se somente durante as leituras, a homilia, a apresentação dos dons, após a comunhão, durante os avisos, que não devem ser muitos. Ajoelhar-se apenas durante a Consagração, levantando-se quando o Presidente faz o convite: “ Eis o mistério da Fé!”

21.  Em caso da Missa é correto falar “Ofertório”?
- Não. O único ofertório é o próprio Cristo. Trata-se da preparação da mesa para a ceia sacrifical. E as espécies ainda não estão consagradas. Melhor dizer “Apresentação dos dons”. No caso da Celebração da Palavra, a Diocese definiu o momento como “Partilha”.

22.  Como saber se um canto é litúrgico?
- Quando evidenciam as verdades da fé; quando são inspirados nas Escrituras, favorecendo a oração; e quando estão em consonância com o rito a que se referem.  Às vezes são o próprio Rito (Ex: o Glória)...

23.  Quando e em que momento rezar a Ave Maria numa Celebração?
- Não cabe a Ave Maria numa celebração. Depende de quem preside e em que situação. Ex: Assunção de Maria, ou Nossa Senhora Aparecida... Enfim, se a Celebração relembra Nossa Senhora. Ou após a homilia ou, ainda, após o silêncio eucarístico.

24.  A assembleia deve acompanhar oralmente alguma prece que compete ao Presidente?
- Não! Compete apenas a quem preside. Inclusive a Oração da Paz. A assembleia deve se restringir a responder “Amém”.

25.  Quando se deve estender o abraço da Paz?
- Depende de quem preside. É preciso, entretanto, lembrar o que diz a Carta Circular às Confederações Nacionais (Brasil: CNBB) em 08.06.2014, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos,  entre outros itens:
      - “Não é necessário convidar mecanicamente para se dar a paz.”
      - Evitar a introdução de um “canto para a paz”, inexistente no Rito Romano.
      - Evitar o deslocamento dos fiéis para a troca da paz.
      - Evitar que “o Sacerdote” (ou quem preside) “abandone o altar para dar a paz a alguns fiéis”.

26.  Cabe a adoração do Santíssimo durante a Missa ou Celebração da Palavra?
- Não! Nem o canto para a Comunhão deve evidenciar adoração. O que se deve evidenciar é a dimensão da Ceia, banquete ou refeição.

27.  A assembleia se inquieta no momento dos avisos. Como fazer?
- Devem ser breves – no máximo 4, objetivos, claros e feitos por uma única pessoa, determinada pelo Conselho Comunitário.


 Marly Moulin

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